quinta-feira
27 de junho
2019

No dia 25 de junho de 2019, em uma terça-feira, o sargento Manoel Silva Rodrigues, da Força Aérea Brasileira (FAB), foi detido no aeroporto de Sevilha, na Espanha, após autoridades locais encontrarem 39 quilos de cocaína em sua bagagem. O oficial fazia parte da comitiva do presidente Jair Bolsonaro em sua viagem à cúpula do G20, no Japão. Ao fazer uma escala na Espanha, os entorpecentes foram encontrados e Manoel foi preso acusado de tráfico de drogas.

Dois elementos chamaram a atenção de brasileiros e autoridades ao redor do mundo: a grande quantidade de drogas e o fato de estarem em um avião oficial da presidência. Os principais jornais dos Estados Unidos e Europa deram a notícia na manhã de quarta-feira, 26 de junho. Já no Brasil, a informação ganhou destaque no dia 27, sendo manchete na primeira página do Diário de Pernambuco, O Dia e de um dos maiores jornais do país, a Folha de São Paulo. Os outros dois maiores, O Globo e O Estado de São Paulo, não deram manchete para o acontecimento.

O Diário de Pernambuco trouxe a manchete “Brasil e Espanha investigam tráfico em avião da FAB’’, localizada no centro da folha, com um texto de 4 linhas contendo uma fala do vice-presidente Hamilton Mourão chamando o militar de “uma mula qualificada”. O jornal O Dia, acima da manchete, usou a palavra “aeromula” como um jogo de palavras devido à fala de Mourão, além de culpabilizar o sargento Manoel Silva de usar o avião para traficar cocaína, o colocando como único responsável, antes do resultado das investigações.

O Globo e O Estado de São Paulo deram manchete para a aprovação do projeto contra abuso de autoridade por juiz e procurador, que ganhou destaque após vazamento de supostas mensagens do juiz Sérgio Moro com procuradores da Operação Lava Jato. No primeiro, a notícia sobre o avião da FAB veio acompanhada da foto do militar, na coluna superior direita, mas foi a foto do ex-prefeito Marcelo Crivella e do ex -governador Wilson Witzel fazendo as pazes no meio da página que chamou mais atenção. Já no Estado de São Paulo, o caso veio na coluna direita, no meio da página, com o título “militar com droga embaraça o planalto”.

A Folha de São Paulo escolheu a manchete “Sargento preso com 39 quilos de cocaína constrange o planalto”, que ficou localizada também na coluna superior direita. Tanto a escolha da Folha, quanto a do Estado de São Paulo de usar as palavras “constrange” e “embaraça” mostra o escândalo internacional que o caso se tornou e como Bolsonaro, eleito sob a promessa de combater o crime e as drogas, teve sua imagem prejudicada. Nos dois periódicos um mesmo anúncio da concessionária de automóveis CAOA, revendedora da montadora chinesa Chery.

O piloto de avião de Bolsonaro já havia feito 29 viagens e acompanhado três presidentes. Na época, o chefe de Estado tentou de qualquer forma desvincular sua imagem do ocorrido. A assessoria da presidência se manifestou dizendo que “o militar não trabalha na Presidência da República e não estaria na comitiva presidencial”. “Ele pertence ao Grupo de Transportes Especiais da Força Aérea Brasileira e exerce função de comissário de bordo”.

O caso seguiu em trâmite por quase 3 anos e as autoridades brasileiras não conseguiram provar quem estava por trás do esquema. Manoel Rodrigues confessou o crime e em fevereiro deste ano foi condenado a 14 anos e seis meses de prisão por tráfico internacional de drogas, além de ser excluído da força aérea.