quinta-feira
7 de fevereiro
2007

 

O Fluminense
Extra
Jornal do Brasil

No dia 7 de fevereiro de 2007, por volta das 21h, um assalto a carro que aconteceu na zona norte do Rio de Janeiro poderia ser mais um a passar despercebido nos números da cidade. Mas aquele não foi. A comerciante Rosa Cristina Fernandes, acompanhada de seus dois filhos, Aline de 13 anos e João Hélio, de 6, parou o seu carro em um sinal de trânsito no bairro de Oswaldo Cruz, quando foi surpreendida por cinco homens armados que mandaram todos saírem do veículo. Rosa e a filha estavam no banco da frente e saíram rapidamente, mas João Hélio estava no banco de trás, preso ao cinto de segurança. A mãe do menino teve dificuldade com o cinto e não conseguiu retirá-lo totalmente. Os bandidos, então, entraram no veículo e partiram com a criança, que ficou com o corpo para fora, sendo arrastada no asfalto por um trajeto de sete quilômetros que durou cerca de 10 minutos. Quando perceberam que o menino estava morto, os criminosos abandonaram o carro com o corpo no bairro de Cascadura.

Assim que tomou conhecimento do crime, a imprensa carioca iniciou uma cobertura com tom de campanha. Pôs o crime como pauta em destaque todos os dias e cobrou as autoridades por uma resolução do caso. Com a gravidade e a repercussão, os cinco bandidos foram identificados pela polícia e presos 18 horas após o crime. Quatro foram levados a julgamento no ano seguinte e condenados a sentenças de 39 a 45 anos em regime fechado pelo crime de latrocínio (roubo seguido de morte). Sendo um dos culpados menor de idade, com apenas 16 anos, a discussão sobre a redução da maioridade penal voltou à tona. Na época, o menor recebeu uma pena de três anos em regime fechado e dois em semiaberto.

A reação na sociedade foi de choque com a frieza dos criminosos e lamento pela morte tão violenta de João Hélio. Após o ocorrido, passeatas e homenagens foram feitas em diferentes pontos do Rio. Uma praça no bairro de Cascadura, onde o corpo do menino foi encontrado, foi renomeada como Praça João Hélio Fernandes. Assim como um parque inaugurado em dezembro de 2007, na cidade de Araruama (RJ), recebeu o nome de Parque Menino João Hélio.

O carioca Jornal do Brasil dedicou praticamente toda sua primeira página para o acontecido e usou três imagens, sendo elas: uma foto da mãe Rosa Cristina com a filha Aline no velório do menino João Hélio, ao lado uma foto dos autores do crime e embaixo um desenho feito pelo menino na escola. A chamada da notícia começou com a irmã pedindo o seu bebê de volta, ou seja, seu irmão. A manchete escolhida pelo jornal foi a pergunta “O que eles merecem?”. Naquele contexto, a manchete soava como um apelo ao punitivismo, evocando posições mais conservadoras na opinião pública.

Na linha oposta, o Extra questionou a possibilidade de destinos extrajudiciais (e ilegais) para os presos. O jornal popular da Infoglobo usou toda a primeira página com uma sequência de três frases e três fotos. A primeira frase “O que fizeram com ele” seguida de uma fotografia de João Hélio, a segunda com “O que acontecerá com eles” referindo-se aos criminosos, e a última frase com a pergunta “E o que será deles?” com uma foto dos pais do menino. A escolha desse tipo de manchete mostra uma abordagem mais “subjetiva”, pois conversa diretamente com o leitor ao fazer uma pergunta.

O jornal O Globo, principal do Rio, usou quase a primeira página inteira com a manchete “Barbárie contra a infância “. O centro da página foi preenchido com um outro desenho feito pela criança, no qual declarava amor à mãe. Ao lado direito, uma pequena foto de João Hélio e embaixo o subtítulo “Um menino sempre de bem com a vida”. A notícia também contou com uma frase dita pela sua irmã, que se lamentava por não conseguir salvar o irmão.

Outros jornais cariocas também usaram manchetes com perguntas, como a Tribuna da Imprensa com a frase “O que falta acontecer?” com fotos do velório, do veículo e de um dos criminosos. O Fluminense, de Niterói, usou a manchete “Selvageria” em corpo maior.

Já a Folha de S.Paulo não apresentou o caso João Hélio com tanta evidência em sua primeira página: separou o subtítulo “Ladrões arrastam até a morte menino de 6 anos” com apenas duas pequenas colunas no centro da página. Em comparação, seu concorrente paulistano O Estado de S. Paulo deu um maior espaço na página inicial ao usar uma foto dos criminosos sendo presos com o subtítulo “Garoto é arrastado e morto por bandidos”.

Em 2021, um dos responsáveis pela morte de João Hélio foi preso novamente após ficar foragido da polícia. Depois de 12 anos preso em regime fechado, o preso cumpria prisão domiciliar, sendo monitorado por tornozeleira eletrônica. Porém, em 2019, um novo pedido de prisão foi expedido quando o homem voltou a cometer roubos.

Créditos:

Texto: Ana Lívia Mendes

Edição: Pedro Aguiar

Fontes:

MEMÓRIA GLOBO. Caso João Hélio. Memória Globo, 2021. Disponível em: https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/coberturas/caso-joao-helio/noticia/caso-joao-helio.ghtml . Acesso em: 4 de fevereiro de 2023.

CASTRO, W. S. Lana. A morte de João Hélio: vítima de um latrocínio. Canal Ciências Criminais,2022.  Disponível em : https://canalcienciascriminais.com.br/joao-helio-vitima-latrocinio/ . Acesso em: 4 de fevereiro de 2023.

MARTINS, Andréia. Foragido, condenado pela morte do menino João Hélio é preso no Rio. UOL Notícias, 2021. Disponível em: https://www.google.com/amp/s/noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/06/24/foragido-condenado-pela-morte-do-menino-joao-helio-e-preso-no-rio.amp.htm . Acesso em : 5 de fevereiro de 2023.

TARTAGLIA, Cesar (ed.). Barbárie contra a infância: o martírio do menino João Hélio. Memória O Globo. s/d. Disponível em: http://memoria.oglobo.globo.com/jornalismo/reportagens/barbaacuterie-contra-infacircncia-8833767, acessado em fevereiro/2023.

 

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