quarta-feira
14 de março
2018

 

Folha de S.Paulo
O Globo
O Estado de S.Paulo

No dia 14 de março de 2018, a vereadora carioca Marielle Franco foi morta a tiros por volta das 21h no Centro do Rio de Janeiro. A parlamentar foi alvo de, ao menos, quatro tiros na cabeça. O motorista que trabalhava com ela, Anderson Gomes, também morreu na ação criminosa – levou pelo menos três tiros nas costas.

O crime aconteceu antes de as redações fecharem, então deu tempo suficiente para incluir a notícia nas primeiras páginas dos jornais para a manhã seguinte. Pequenas notas, ou mesmo pequenos títulos saíram nos jornais mais importantes do Brasil divulgando o fato: Marielle Franco foi assassinada.

Mas, quem era Marielle Franco? Foi eleita vereadora do Rio de Janeiro com 46.502 votos. Foi presidente da Comissão da Mulher da Câmara e lutou pelos direitos das mulheres, dos negros e da favela. Semanas antes, tinha assumido a presidência da comissão que fiscalizaria a intervenção militar no Rio de Janeiro, decretada por Michel Temer e que tinha à frente o general do Exército Walter Braga Neto.

“Marielle Franco é mulher, negra, mãe, filha, irmã, esposa e cria da favela da Maré”, descreveu o Instituto Marielle Franco.

O Correio Braziliense, de Brasília, não deu muita informação sobre o assassinato de Marielle. Apenas uma nota fria, sem muita explicação sobre quem era, qual era sua importância e o que aconteceu na fatídica noite do dia 14. Vereadora do PSol é morta a tiros no Rio, foi o que escreveu o jornal. A frase, bem abaixo da manchete, ocupou as quatro colunas da segunda dobra, espaço da primeira página que não tem muita relevância.

O Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, deu uma relevância maior para a notícia. A começar pela posição escolhida dentro da primeira página: o canto superior esquerdo – essa posição dá mais importância ao fato porque, logo quando o leitor pega o jornal, é um dos primeiros lugares para que ele olha. A página fez um breve resumo de quem foi Marielle e a dinâmica dos fatos, arranjando também um espaço para dar rosto à vereadora. Mas a morte do astrofísico britânico Stephen Hawking, também ocorrida mais cedo no dia 14/3, de causas naturais, ocupou maior espaço, com foto.

O jornal O Globo, também carioca, foi o que deu maior destaque entre os três. Todas as quatro colunas da primeira dobra foram ocupadas pelo assassinato de Marielle. Além da foto e resumo de quem era a vereadora, junto a uma explicação do que aconteceu naquela noite, o jornal também incluiu foto da cena do crime: o carro, com perfurações.

Mas acontece que nenhum jornal estava de fato preparado para a repercussão que aquela notícia iria ter.

No dia seguinte ao assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ruas do Brasil foram tomadas por multidões que gritavam “Quem matou Marielle?” Milhares de pessoas pediam por respostas de um assassinato a sangue frio. A população fechou, inclusive, a Linha Amarela, uma das avenidas mais movimentadas do Rio.

À exceção do Meia Hora, compacto carioca, e d’O Dia, ambos da mesma empresa, nenhum jornal deu a notícia logo no dia seguinte na proporção da importância que a morte de Marielle teve. Quando os jornais se deram conta, só ao longo do dia 15/3, tiveram de correr atrás do prejuízo. Então, fizeram primeiras páginas e capas (são formatos diferentes) em tons de homenagem dois dias depois, em 16 de março de 2018.

Enquanto, nas ruas a movimentação era para cobrar justiça e resposta do ato da noite anterior, nas redações a movimentação era outra: como fazer jus a tanta reivindicação da população na primeira página de amanhã?

A resposta foi essa:

 

Agora com outro lide, os jornais exibiram o tamanho da perda mostrando fotos das manifestações ao redor do país.

O Correio Braziliense mostrou a grandeza de quem Marielle foi com um desenho de seu rosto junto a um desenho do mapa do Brasil. Com a primeira página praticamente toda dedicada à vereadora, o jornal escolheu, além das imagens, a manchete “A dupla morte de um país”, fazendo referência à morte de Anderson.

Um breve texto mostra as manifestações populares e exige respostas. Ao lado, expõe pequenas frases de três colunistas que falaram sobre o caso.

Para mostrar a gigante que Marielle foi, o Jornal do Brasil exibiu na íntegra um artigo que ela havia mandado ao jornal horas antes de ser assassinada. No texto, a vereadora explica que a intervenção federal das Forças Armadas não seria a solução para diminuir a violência no Rio de Janeiro.

Já o jornal O Globo preferiu contar a história de uma forma mais comovente. Bem no topo da página colocou a frase da própria MarielleQuantos mais vão precisar morrer?”. Na manchete, escolheu pôr Marielle Presente, frase espalhada por todo o Brasil para mostrar que seu legado não seria esquecido. Seguido por uma foto do enterro com uma multidão em sua homenagem.

No rodapé da página, a homenagem não acabou. Assim como o Correio Braziliense, o jornal carioca adicionou pequenas falas de colunistas sobre o caso.

Os jornais ouviram a voz do povo e pediram por justiça. O assassinato de Marielle Franco e de Anderson Gomes ainda não foi esquecido. Os responsáveis pelos disparos foram presos. Mas, cinco anos depois, uma pergunta ainda não foi respondida: “Quem mandou matar Marielle?

Créditos:

Texto: Júlia Zanon

Edição: Ayam Fonseca e Pedro Aguiar

Veja também:

2007: Assassinato do menino João Hélio no Rio

1968: Assassinato de Martin Luther King

Fontes:

Instituto Marielle Franco https://www.institutomariellefranco.org/

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