sexta-feira
4 de outubro
1957

 

Folha de S.Paulo
O Estado de S.Paulo
O Globo

Em 4 de outubro de 1957, às 19h28, a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) colocou em órbita uma esfera de 58 cm de diâmetro, formada por quatro antenas, baterias, um emissor de rádio e sensores de pressão e de temperatura que emitia sinais facilmente identificáveis pelos rádios nas casas: era o Sputnik I — em russo, “Sputnik” significa “companheiro de viagem” —, o primeiro satélite artificial da Terra. O lançamento do objeto não foi apenas uma grande inovação tecnológica para a época, também garantiu à União Soviética a dianteira na corrida pela exploração do espaço, cada vez mais nas mãos da iniciativa privada atualmente, que acontecia entre as duas potências que emergiram após o fim da Segunda Guerra Mundial: os EUA, representando o bloco de países capitalistas, e a URSS, liderando o bloco de países socialistas. 

No dia seguinte, o lançamento do satélite foi manchete em vários jornais do Brasil e do mundo. Na esfera nacional, o Diário de Pernambuco dedicou boa parte do espaço acima da dobra da primeira página ao fato. Ocupando toda largura da página, a manchete “Lança a Rússia o satélite artificial da Terra” era acompanhada do chapéu “Anuncia oficialmente a agência ‘TASS’” e, logo abaixo, dois subtítulos. O primeiro, “Pode ser observado apenas de binóculos”, ocupou duas colunas de texto à esquerda com informações de Londres sobre o lançamento do satélite e descrevendo o objeto. Dentro da primeira coluna, há ainda um bloco especial com informações também de Londres que informou “Primeira a captar sinais, a B.B.C.”. A segunda coluna continua o texto da primeira, interrompido acima da “caixa” sobre a BBC e, ao lado, exatamente no centro da página, uma fotografia pouco distinguível trouxe uma notícia nacional: a doação de um apartamento para a “sra. Cecilia de Faria Cardoso, viúva do funcionário da Televisão Tupy falecido quando tentava impedir que um homem embriagado, que viajava em pé num trem da Central de porta aberta, viesse a cair nos trilhos.”. O segundo subtítulo, ao lado direito, trouxe “Moscou divulgou para o mundo inteiro a notícia”, dessa vez com três colunas de texto e informações diretamente da capital russa. Alguns intertítulos preencheram as três colunas à direita e, na página, há mais algumas matérias falando do lançamento do objeto, como “Intensa repercussão em todo o Ocidente” e “Tomados de surpresa todos os circuitos de Washington”, também dentro de uma “caixa”. 

Logo abaixo do cabeçalho, a manchete da edição do Jornal do Brasil daquele sábado, 5 de outubro, foi “Lançado ontem o primeiro satélite artificial”. Era impossível não noticiar sobre o primeiro satélite em órbita do planeta, mas diferente do periódico pernambucano, com exceção da manchete, não houve nenhuma outra menção ao Sputnik I. Toda primeira página do jornal é dedicada a avisos — primeira coluna à esquerda e parte da segunda  —, achados e perdidos — restante da segunda coluna e uma pequena parte da terceira  —, e anúncios de vagas de emprego  — que começa na terceira coluna à esquerda e continua até a sétima, já à direita  —, o que traz ao jornal um caráter mais publicitário do que informativo. A última coluna à direita falou sobre o tempo  — “O tempo: Tempo bom, temperatura em elevação” —, de uma nota sobre a falta d’água — “Boletim da falta d’água” — e trouxe também o índice de publicidade do jornal, que ocupa pedaços da penúltima e última colunas na parte inferior da página. As matérias correspondentes à manchete, sobre o satélite lançado, e às outras notícias do dia encontraram-se todas no interior do jornal, na página 5.

Seguindo a linha editorial dos outros dois jornais, O Estado de S.Paulo também deu como manchete o lançamento do satélite Sputnik I e deu à notícia o espaço das cinco primeiras colunas da esquerda para a direita, acima da dobra, com informações de Moscou, da agência “TASS”, e de Londres, como no Diário de Pernambuco, e também de Nova Iorque e de Washington. Algo que chama atenção no Estadão é que, dos três jornais analisados, foi o único a trazer fotografia para acompanhar a notícia. A imagem mostrou três momentos do lançamento do foguete que levou o satélite a órbita — da esquerda para a direita, o foguete sendo lançado, o foguete em voo e a ogiva que retornou à Terra após ter feito as observações pretendidas, respectivamente — e legenda que comenta que “graças ao aperfeiçoamento dos foguetes destinados à observação das altas camadas da atmosfera é que foi possível o lançamento do primeiro satélite artificial”. A legenda continua e, ao todo, teve duas falsas colunas de seis linhas cada. Abaixo da dobra, outra notícia com destaque é “Surpresos e decepcionados os cientistas norte-americanos”, ocupando três colunas e com informações de Washington da agência de notícias francesa AFP sobre o sentimento estadunidense com a vantagem russa na corrida espacial.

O Sputnik I tornou o espaço um novo campo de batalha para a Guerra Fria, com a Rússia na frente. Ainda no final da década de 1950 e início da década seguinte, mais sete satélites do mesmo programa espacial seriam lançados. O mais importante foi o Sputnik II, que levou o primeiro ser vivo ao espaço, a cadela Laika, em 3 de novembro de 1957. Já em 12 de abril de 1961, mais um ponto para a URSS: a primeira nave espacial pilotada por um ser humano, o cosmonauta Yuri Gagarin, foi para o espaço em um lançamento bem-sucedido e levou os EUA a planejar a ida do homem à Lua até o fim da década. O plano ambicioso se concretizou com a missão Apollo 11, em 20 de julho de 1969, que fez o astronauta Neil Armstrong retornar à Terra como o primeiro homem a pisar em solo lunar.

Créditos:

Texto: Francielly Barbosa

Edição: 

Fontes:

BAIMA, César. O GLOBO, 90 anos: O lançamento do Sputnik 1. O Globo. 2015. Disponível em: https://oglobo.globo.com/saude/ciencia/o-globo-90-anos-lancamento-do-sputnik-1-16376211. Acesso em: 4 out. 2022.

GERSCH, CLaus-Dieter. 1957: Lançamento do Sputnik. UOL Notícias. 2017. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2017/10/04/1957-lancamento-do-sputnik.htm. Acesso em: 4 out. 2022.

SPUTNIK. Acervo Museológico dos Laboratórios de Ensino de Física. 2022. Disponível em: https://www.ufrgs.br/amlef/glossario/sputnik/. Acesso em: 4 out. 2022.

SPUTNIK, o primeiro satélite artificial. Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro. 2016. Disponível em: https://planeta.rio/sputnik-2/. Acesso em: 4 out. 2022.

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