Sábado
29 de setembro
2018
No dia 29 de setembro de 2018, ruas do Brasil inteiro foram tomadas por manifestações. Se, de um lado, o povo ocupou os principais centros do país com cartazes e dizeres de “Ele Não”, do outro, o verde e amarelo tentava colorir, sem sucesso, as ruas cinzas em apoio ao então candidato à presidência, Jair Bolsonaro.
Oito dias antes das eleições de 2018, apenas São Paulo (Largo da Batata) e Rio de Janeiro (Centro da Cidade) reuniram cerca de 125 mil pessoas que se mostraram contra o candidato. O site El País contabilizou, ao menos, 18 capitais e 65 outras cidades que também aderiram à manifestação. Houve também mobilização em cidades fora do território brasileiro, como Nova York, Lisboa, Paris e Londres.
O movimento começou por mulheres nas redes sociais, principalmente Twitter e Facebook. Segundo Céli Regina Jardim Pinto, estudiosa do movimento feminista e professora emérita da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os protestos do Ele Não foram os os maiores organizados por mulheres na história do Brasil. De acordo com ela, alcançaram pautas que foram muito além da ideia de mulheres contra Bolsonaro.
“#EleNão virou um significante cheio de significados. Isso é muito importante na luta política. Começou pelas mulheres, porque Bolsonaro disse frases de baixo nível em relação à mulher, e foi englobando muita coisa, como a defesa da democracia e dos direitos humanos”, destacou Céli.
Em contrapartida, o movimento que buscou ser a voz a favor do candidato não foi alto o suficiente. As ruas de Copacabana, por exemplo, ficaram vazias. Apesar disso, Bolsonaro seguia em primeiro nas pesquisas eleitorais, mesmo sem comparecer a nenhum debate político, devido ao atentado, no qual sofreu uma facada em sua barriga.
Os dois movimentos viraram notícia e repercutiram na imprensa nacional no dia seguinte.
A primeira página do jornal O Globo de 30 de setembro, um dia após as manifestações, trouxe destaque para os protestos do Ele Não. Apesar de a manchete ser sobre estratégias de campanha dos dois principais candidatos à presidência na época, Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, a foto em destaque é do protesto no Centro do Rio de Janeiro. O título que que acompanha a fotografia, a qual mostra a grande quantidade de pessoas nas ruas, é: “Mulheres nas ruas contra Bolsonaro”, com o subtítulo “Candidato, que deixou hospital, é alvo de protestos”, junto com uma imagem menor de Bolsonaro. Ou seja, não deixaram de dar a notícia da recuperação do então candidato à presidência, mas a colocaram em segundo plano – mesmo ela tendo ocorrido no mesmo dia das manifestações.
O jornal Folha de São Paulo fez uma escolha muito clara. A manchete chama atenção do leitor para o candidato do PT com: “Haddad se cerca de petistas que respondem a protestos” e a foto, logo abaixo, de uma das manifestações com a bandeira do Brasil, símbolo muito utilizado pelos manifestantes a favor de Bolsonaro. Entretanto, o título, em tamanho bem menor, logo abaixo da imagem, mostra que a foto da multidão é do Largo da Batata, em São Paulo. O jogo de layout não foi à toa.
Já a primeira página do jornal O Popular, de Goiás, preferiu a alternativa de comparar as duas manifestações. Do lado esquerdo, as manifestações do Ele Não e, à direita, uma foto das manifestações pró-Bolsonaro. O título escolhido para essa matéria foi “Os opostos tomam as ruas”. A página, contudo, não mostrou a diferença de adesão que cada lado teve. A tentativa de ficar em cima do muro e não dar preferência a nenhuma das duas manifestações não foi justa: o mar vermelho, fazendo referência ao PT era muito maior do que o verde e amarelo. Essa também não é a manchete da primeira página d’O Popular. Para essa posição, o jornal optou por uma notícia local. No entanto, as duas imagens, junto ao título da reportagem sobre as manifestações, estão com uma margem verde, chamando a atenção do leitor.
A primeira página do jornal O Estado de São Paulo, por outro lado, nem cita as manifestações do dia 29 de setembro de 2018.
Créditos:
Texto: Júlia Zanon
Edição: Douglas Ribeiro
Fontes:
BBC NEWS Brasil – https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45700013
El País Brasil – https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/26/politica/1537989018_413729.html
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